Saúde Vocal II

 

Na TPM, até as cordas vocais ficam inchadas

 

Há um sintoma audível entre as várias alterações que ocorrem na tensão pré-menstrual (TPM): as mudanças vocais.

 

 

A voz falha, treme, fica mais grave ou rouca - e essas variações não são simples reflexo de destempero emocional. Segundo pesquisa feita na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), há um sintoma audível entre as várias alterações que ocorrem na tensão pré-menstrual (TPM): as mudanças vocais.

A quartanista de fonoaudiologia Luciane Carrillo de Figueiredo, 23, começou a investigar o impacto das alterações hormonais nas cordas vocais femininas há dois anos. O projeto de iniciação científica, realizado com bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), concluiu que os distúrbios da voz (disfonias) são comuns nos dias que antecedem o início do fluxo menstrual e também nas 48 primeiras horas da menstruação. A causa é a diminuição dos níveis de estrógeno e progesterona.

"O inchaço que incomoda muitas mulheres na TPM também atinge as cordas vocais, e esse edema muda a frequência vibratória, tornando a voz mais grave", explica Figueiredo. Além disso, a alteração hormonal reduz a produção do muco que protege e lubrifica as cordas vocais, provocando outras mudanças na voz. "No período menstrual, as mulheres apresentam uma voz mais rouca, soprosa e instável, com muito ruído."

Segundo Maria Inês Rebelo Gonçalves, professora da Unifesp e orientadora do trabalho, é importante conscientizar as mulheres sobre esses problemas. "A maioria não percebe; nem as voluntárias que avaliamos tinham se dado conta das alterações", diz ela. O estudo foi feito com 30 estudantes de fonoaudiologia não-fumantes, sem problemas vocais ou hormonais e que não consumiam pílula anticoncepcional.

Gonçalves recomenda que as mulheres - principalmente aquelas que trabalham com a voz, como professoras e profissionais de telemarketing - tentem poupar a voz durante a TPM e o início da menstruação, pelo menos depois do expediente. Além disso, devem beber muito líquido, evitar ambientes enfumaçados e álcool e fazer exercícios de aquecimento vocal. "Um otorrino ou fonoaudiólogo pode dar a orientação necessária."

 

Fonte
Folha de São Paulo
02/10/2003

 

 

 

Por que a voz não funciona

 

 

 

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Se os músculos da respiração falham em fornecer o combustível de ar às pregas vocais, mas a necessidade de produzir a voz para algum propósito permanece, então um pequeno fio de ar é encontrado (apenas para ativar a vibração), enquanto os outros músculos da garganta, mandíbula, lábios e língua trabalham duas vezes mais para compensar a falta do ar. O tom resultante é fino e a mensagem carregada não é clara. A voz não pode trabalhar se sua energia básica não for o ar. Enquanto a respiração não for livre, a voz será dependente das compensações realizadas pelos músculos da garganta e boca. Quando esses músculos tentam conduzir sentimentos fortes, tais resultados podem ocorrer: eles encontram um modo sadio e musical para descrever tal emoção; dirigem o som em monotom; ou se contraem, tencionam, empurram e apertam tão fortemente que causam atrito entre as pregas vocais. Dessa maneira, as pregas vocais tornam-se inflamadas, perdem elasticidade, são incapazes de produzir vibrações regulares e, finalmente, lesões são criadas conforme as pregas vibram sem a lubrificação do ar.

 

 

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Citando o aspecto de ressonância, se a garganta é tencionada com esforço, ela constringe o canal por onde o som viaja. Muito comumente, essa constrição impede que as vibrações do som trafeguem livremente até as caixas de ressonância mais superiores, restringindo a amplificação dos ressoadores médios e superiores. Isto pode resultar num leve, agudo e estridente tom. Ao mesmo tempo, tensão na garganta, juntamente com a inconsciente necessidade de produzir um som sob controle, pode fazer com que o som só ressoe nas cavidades inferiores e um rico e profundo monotom, que não encontra suavidade, seja criado. Se o palato mole e a parte posterior da língua se juntarem ao batalhão na substituição da respiração, acabam dirigindo o som para o nariz ao invés de permitirem a livre passagem pela boca. O nariz é poderoso, dominador e nada sutil como ressoador. Se a voz concentra-se no nariz, facilmente ela é ouvida, mas o que se ouve pode se mostrar difícil de ser entendido. As nuances são queimadas e a variabilidade do pensamento pode não encontrar livre espaço na variedade de qualidades ressonantais. O conteúdo é distorcido por apenas uma forma de ressonância disponível.

 

O passo final da produção da voz está na articulação – lábios e língua. O que é certo é que até que a língua possa relaxar enquanto um som básico é formado, ela não pode desenvolver sua função natural que é a modelagem do som. A língua é ligada à laringe (através do osso hióide) e a laringe comunica-se diretamente com o músculo diafragma através da traquéia. Tensão em uma das três áreas causa tensão nas outras duas. Além disso, enquanto há tensão na língua, ela articulará com mais esforço do que o necessário, e devido a isso diminuirá sua sensibilidade para responder aos impulsos motores vindo do córtex cerebral. (...)

Os lábios constituem parte do complexo facial que responde a mensagens inibitórias da mente, formando uma cortina sobre a janela da face. A liberdade do lábio superior é essencial para a articulação viva. A responsabilidade pela articulação deve ser igualmente dividida entre os lábios superior e inferior. Se o superior é rígido, o inferior realizará 85% do trabalho e provavelmente recrute a mandíbula como suporte extra. A mandíbula é mais pesada se comparada aos lábios, e a articulação não pode ser econômica em tais situações. (...)

 

Fonte
LINKLATER, K. Why the voice does not work in Freeing the Natural Voice.
Drama Book Specialists, NY.
Traduzido e adaptado por Viviane Barrichelo